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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Festival da boa vizinhança


Dizem que todo mineiro que se preze, um dia vai conhecer o litoral capixaba. Eu digo mais: todo mineiro que preze pelos bons costumes e pelo bem comum deve fazer ao menos uma vez na vida o trajeto MG-ES. Eu que me achava uma pessoa educada e com um mínimo de cultura suficiente para não ser considerado um apedeuta, fiquei surpreso ao descobrir o quanto nós, pequenos nativos das terras alterosas, somos mal-educados e nos achamos falsamente humildes. Em recente viagem feita à cidade de Anchieta, “um lugarzinho ruim, mas que é bom”, como definem os moradores da cidade, fiz pela primeira vez o trajeto que milhares de mineiros estão habituados a fazer e que até hoje não tem explicação: por que ir ao Espírito Santo se o Rio de Janeiro é logo ali? Durante a viagem comecei a refletir sobre isso e acredito ter encontrado a resposta. Chegando à capital do estado que já é abençoado no nome, pude perceber a tranqüilidade dos habitantes. Lá parece que o tempo passa mais devagar, e é isso que nós buscamos. Vitória deve ter uma média de uma bicicleta a cada quatro ou cinco habitantes, devido ao fato de que a qualquer lugar que você queira ir, consegue utilizá-la, sonho de todo belorizontino, onde, como dizia um tio meu, tiveram preguiça de usar trator e retroescavadeira. Fiquei impressionado também por não ver papéis de bala no chão e por não ouvir pessoas gritando ‘dentista’, ‘cortar cabelo é treis real’ e te entregando panfletos que serão jogados no chão logo em seguida. Mas o que mais me chamou a atenção nos capixabas foi a educação. Lá todos te desejam bom-dia, mesmo que não te conheçam; todos são prestativos em fornecer informações; e o mais incrível: os carros param para o pedestre passar! Já que entramos no assunto transporte e trânsito, algo que deveríamos copiar é o semáforo com contagem regressiva, algo muito útil que evita as confusões causadas por achar que dá tempo de passar no amarelo. Nunca me passou pela cabeça um transporte coletivo sem roleta. Pois é, lá tem. Funciona à moda antiga e é bem mais eficiente que o revolucionário BHBUS que te dá direito a meia-tarifa no segundo ônibus. Quem precisa pagar meia passagem no segundo ônibus quando a passagem de um trajeto de quase 40 km custa apenas R$ 1,20? E de quebra um taxista que bancou o guia turístico. Sem eu pedir nada para ele, ele já fez questão de passar nos pontos turísticos da grande Vitória, indicou onde eram os melhores restaurantes, as melhores praias, os melhores preços, e o melhor, sem taxímetro… Acho que é por isso que nós mineiros gostamos tanto do Espírito Santo. Nossa eterna busca por evolução e melhorias nos causaram transtornos que não teríamos sem elas, e teríamos uma qualidade de vida indiscutivelmente melhor. Já que ‘o futuro anda rápido’, saibamos reconhecer os lugares onde o presente ainda é valorizado, onde o povo simplesmente trabalha e confia que o amanhã nada mais é do que o reflexo do que fazemos hoje.

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